quarta-feira, 21 de maio de 2008

Laranjeiras


Ah meu caro,eu tento a sinceridade mas o que eu sinto mesmo está escondido.E eu vacilo,e sigo,minto,corro,me escondo,e quem sou eu no final do conto?
Já nem sei e finjo que não ligo,finjo que consigo sem,finjo muito bem.
Sou humana.
Amo e odeio.
Sorrio e choro.
Quero,te quero mas não posso.
Não posso por que não se pode ter alguém,não posso por que sei que tem algo além,não posso nem devo por que isso é se atirar de encontro ao chão,uma invasão,doce destruição.
Mas já te tive,como me explica,quão maravilhoso foram os meus dias?
No ato.


E ela terminou de recitar com lágrimas nos olhos,respirou fundo e riu quando ouviu os aplausos.Agradeceu ao público,as luzes se apagaram e ela foi retirar a maquiagem e o personagem.Limpando o rosto,olhando no espelho,se via,e não via.Por que esse ser sem vida não era ela,não haveria de ser.Se fosse por que se tornara assim?Não é possível que alguém viva assim.
Soltou os cabelos,pegou a bolsa e foi embora.Caminhando pelas ruas,a noite,de uma cidade quase morta,que de dia borbulha,pensava,pensava e hesitava.
Por que tanta angustia?
Por que não facilita?
Por não querer ser clara e objetiva,por ser covarde ao ponto de deixar acontecer e não tomar suas próprias atitudes,de gritar,de chorar,de chingar,e perguntar.
Pra onde você ta indo?
Aonde eu faltei?
Por que estava sofrendo por antecipação,premonição,e não mais viva e sim pensava,e tantas vezes foi suscitada pra não fazer isso.Para apenas esperar,que tudo iria voltar,ou ser.
Parou na esquina de uma rua escura,sentou na porta de uma loja que estava fechada,abriu a bolsa,pegou o celular,ligou,chamou,alou?
Meia hora depois ele estava lá,com uma cara de assustado,de fato,só o amor volta pra brigar,tenso,pálido,reclamando por que ela estava naquela situação.E explicando.Mas dentro de todo o sentimento, a repulsa.A única coisa que se tinha certeza que além de intenso, era amor.E poderia passar anos,mas seria amor.Mas não por completo por que o egoísmo sujara tudo.Ele só pensava nele e ela nela.

Rir é inevitável quando estou ao seu lado,
Não é que o tempo passa rápido?
Nossos corpos se encaixam,
Seu cheiro me adormece,
Seu carinho me contenta.
Haja fim,que seja longuiqüo.
Eu já tenha perdido,a consciência,para não mais sofrer.


Respirou,falou,respirou,ele não escutou.Pegou dentro da sua bolsa,e tomou.Acordou morta do lado dele,dor igual não houve.Ele gritou,e ecoou seu nome por alguns anos-luz,tudo por que não estava distraída,tudo por que quis definir o que já estava definido.E ele perdeu a paz.E ela muito mais.

Um comentário:

Adrian Troccoli disse...

"Ah meu caro,eu tento a sinceridade mas o que eu sinto mesmo está escondido.E eu vacilo,e sigo,minto,corro,me escondo,e quem sou eu no final do conto?"
Ai ai...
Muito bom o texto,
Beju