terça-feira, 17 de junho de 2008

Devana.



-Serviço de Emergência,por favor identifique se,nome e idade.
-Amélia Câmara Amaral,36 anos.
-Agora situe o acidente por favor.
-Estrada principal,kilometro 14.
-Certo, número de vítimas?
-Dois, um homem e uma mulher, minha menina...
Caiu no choro.
-Acidente de carro?
A voz do guarda foi se perdendo em sua cabeça.Em segundos já estava em outro lugar.
Era sua casa, domingo de noite, chovia e ela tinha ido embora, acordou no sábado distante.Amélia quis respeitar, ignorou o fato, e continuou o dia normalmente, mas no domingo de manha, com as malas prontas, Fernanda foi embora.O dialogo que tiveram foi tão rápido que ela mal podia lembrar, e em sua cabeça inventava coisas que não tinham sido faladas.
-O que esta acontecendo?
-Estou indo embora,vc não vê...
-Por que?
-Não te amo mais, nunca amei...
-Ah não fode!Deixa de ser infantil, isso aqui não é um filme, arruma lá suas coisas no guarda roupa e vamos ver um filme...
Amélia foi pegar um café, quando voltou pra sala Fernanda já tinha ido embora.
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Elas moravam em uma casa muito confortável, toda feita de madeira, com uma lareira no centro da sala, como a cidade onde moravam era bem acima do nível do mar e o clima era sempre úmido e frio, acendiam algumas velas pela casa para manter o calor.Faziam mais ou menos cinco anos que moravam juntas, Amélia era mais velha que Fernanda, se conheceram em uma feira cultural de literatura onde se apaixonaram loucamente.Sem qualquer antecedente homossexual, Fernanda se entregou a uma mulher que a fez se sentir liberta de todos os paradigmas que ela tinham.Amélia acreditava no amor, mas suas amigas achavam que Fernanda apenas estava escapando da família que a sufocava.No mundo de Amélia tudo corria muito bem, no mundo da Fernanda depois do segundo ano ela só desejava a maior idade para sair dessa casa e seguir seu rumo sozinha, pelo mundo.

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Amélia era uma mulher experiente sabia que Fernanda não ira muito longe, sabia que Fernanda precisava dela, sabia de tudo isso, por isso nos primeiros trinta minutos não se desesperou, foi como se Fé tivesse ido ao supermercado ou passear com cachorro, toda o barulho que o vento fazia, ela olhava e chegava sorrir imaginando, que ela tava voltando q que poderia falar coisas do tipo “sabia que vc voltaria” e beija lá.Contudo passou uma hora, passou duas.Amélia começou a ficar agressiva e gritando em uma discussão imaginária.Tomou um chá respirou, vestiu se e foi para a garagem.Abriu a porta do seu Jeep Toyota 86, cor bege, bate a porta com força, já estava emperrando, imaginou que devia levar logo essa porta para concertar, quando conseguissem licença para adotar uma criança essa porta ia acabar dando problema, imagina se alguém prende o dedo alo, que desgraça.Ligou o carro e saiu, na descida da sua casa para pegar a principal, percebeu que já estava de noite, e que não tinham passado só três horas,achou estranho,de repente era só por que o tempo tava fechado,afinal estava chovendo.Foi dirigindo para única saída da cidade,na estrada a chuva começou a apertar,mal podia enxergar as placas,e muito menos o barner do único hotel da saída da cidade que piscava em néon vermelho.Era só uma luz longe.Foi seguindo,quando de repente,viu um táxi capotado e um inicio de incêndio,não sabia explicar mais sabia que Fê estava lá dentro.E se tivesse acontecido algo com ela?Não conseguia pensar,doía demais essa idéia,saiu do carro sem hesitar,foi até o táxi capotado com o motorista descordado e com Fernanda suja de sangue desmaiada,sentiu raiva do motorista que cara maluco como ousa capotar com o amor da vida dela,se achou boba,voltou para carro procurou algo que pudesse cortar as ferragens do carro,ligou pra ambulância,foi até Fernanda tentou tira la de todas as formas,arrancou até a porta do carro,e o tempo corria,e ela chorava e conversava com sua amada,mesmo sabendo que ela não ouvia mas achava que ainda respirava.Finalmente com ajuda de uma pá,conseguiu mover o banco de cabeça pra baixo e o corpo cedeu,puxou Fernanda para fora do carro,O corpo caiu em cima de Amélia,e o carro tombou em cima dos dois corpos,Amélia desmaiou,mas pode ouvir as luzes e o barulho da sirene da ambulância que chamou.Tranqüilizou se.Descansou.

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Amélia só foi acordar depois de alguns dias,estava em um quarto,paredes acolchoadas,tinham cortado os seus cabelos,estava com aquela roupa de hospital,tinha uma bandeja com alguns remédios e água.Procurou hematomas pelo corpo não encontrou,passou a mão pela cabeça e sentiu pontos.A pancada que ela sentira na barriga na verdade tinha sido na cabeça,as ferragens do carro,tudo se encaixava.Levantou se,não tinha colega de quarto,achou estranho,andou até a porta,era só uma pequena janela e estava trancada.Entrou em desespero,procurou uma campainha.Chegou um médico,com uma pasta e alguns enfermeiros,a fizeram sentar a na cama e o medico começou.Sem saber por que,mas já imaginando o pior,Amélia tinha um sexto sentido muito forte,começa ra a chorar de soluçar.Sua Fernanda tinha morrido.

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Paciente Amélia Amaral,39 anos,em tratamento a aproximadamente dois anos e meio.Poucos momentos,para ser mais exato,dois em que esteve lúcida,um na delegacia assim que foi presa,e outro a dois dias desde que mudamos o medicamento.Começamos hoje mais uma serie para fazermos o chamado Storm.O medico falava no mp3.
A paciente chorava,mas hoje pela primeira vez encarou o médico.
-Cadê ela?cadê minha menina?Vocês não conseguiram salva lá?
-Fernanda Silva,é a sua menina?
-Fernanda Silva,isso...
O medico abriu a pasta e deu para Amélia.
Com cuidado ela pegou e começou a ler as manchetes.Se choro secará.
-Você matou sua menina.
Amélia não conseguia dizer nada,nem chorar.
-No dia em que ela saiu de casa,te contando que se apaixonara por outra pessoa,dessa vez um homem,você a seguiu ,como nesse dia estava chovendo muito,eles resolveram dormir na cidade no pequeno e único hotel perto da saída da cidade.Você esperou debaixo de chuva por mais ou menos três horas até que ele Renato Luiz seu primo de 24 anos,saísse do quarto e deixasse Fernanda sozinha.
Ouvindo a historia Amélia começava a reconhecer algumas cenas,e mordia seus lábios de forma tão brusca que machucava se.
-Você entrou no quarto,ela começou a conversa com você dizendo que jamais te amara de verdade e agradecendo a você por tudo que fez e ela,mas que agora ela conhecera o verdadeiro amor,e você não merecia ser enganada,esse romance acontecia a algo tempo já,ela tentou lutar contra mas era maior que ela,então ela junto com seu primo decidiram sair da cidade e começar uma nova vida.Antes que ela pude se terminar de falar,você a esfaqueou,começou pela barriga,depois as coxas,até as partes intimas.Você foi macabra.Foram mais de 40 facadas,até que Renato voltou e começou a gritar mas você não parava nem para escutá-lo,até que ele te acertou na cabeça e você desmaiou em cima de Fernanda.Mas o que não conseguiu entender por que você teria chamado a policia e a ambulância.Até que seu advogado conseguiu sua redução penal alegando Alter-Ego,e trouxe você pra cá.Desde o principio você contava outra historia,uma de táxi,a qual você teria criado para fugir da culpa,um artifício onde você o tempo todo só amou a Fernanda,mas essa não era você,era o seu alter ego que a possuiu por pelo menos três anos.Agora tentamos um remédio novo,que não deixa as sinapses nervosas se comunicarem o acetil colina e assim você não atende os impulsos,logo não está mais dopada,nem pelos nossos remédios nem pelos seu próprio organismo.
-Aos poucos você está se recuperando,e vamos conseguir que seu alter ego nunca mais tome conta do seu ser.Você não vai pagar pelo seu crime em uma cadeia,mas sim se tratando.
Amélia não conseguia expressar nada,estava com os lábios sangrando de tanta força que fizera,seus olhos estavam secos,e mal piscava,um grupo de enfermeiro a deitou na cama,e pos nela um mordedor bucal para que não se machuca se.
O medico fez anotações,desligou o mp3 e saiu da sala,deixando a pasta aberta para que Amélia aos poucos fosse lendo e retomando sua memória e assim vivendo a realidade e não seu Alter Ego,essa doença foi intensificada no anos 80 e é uma vertente da esquizofrenia.O que nos faz cada vez mais pensar que somos fruto de nos mesmo,e não só o nosso ser mas como nosso organismo nos controla,nos nós controlamos.A mente humana é fatal,o ser humano é uma máquina de vida e morte.E da vida somos tomados tão abruptamente que mal sentimos a verdadeira essência,não acredita se em felicidade mas em momentos felizes,em paixão mas momentos de amor,tristesa mas momentos de seca tristeza. A única coisa que é absoluta na vida é a morte.Você morre ou alguém morre, e fim.Ninguém vive momentos de morte (a não ser em poesias).


Ps: A verossimilhança é só interna.Perdoem a ignorância.E a confusão de pessoas e lugar foi proposital.

Um comentário:

Adrian Troccoli disse...

Sem palavras...
Parabens...superando-se...