quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Me encierran los muros de todas partes.




A última produção dela me assustou um pouco, era uma parede branca com cerejas coladas, e uma calda meio sanguinolenta que escorregava de cada cereja, o nome da obra era o muro das lamentações. Esse tipo de irônia concisa, que poucos percebiam eram uma das coisas que mais me chamava atenção nela.
Ficou durantes três meses organizando idéias pra fazer essa produção, e só funcionava à noite, eu tentava acompanhar a madrugas produtivas, fumava alguns cigarro, fazia companhia no silêncio, carinhos nos ombros, mas ela nem me notava, e isso não me incomodava, o que me incomodava era a inspiração dela, só produzia quando brigávamos, então foram três meses pisando em ovos, na última briga, obviamente por ciúmes, quebrou meu whiskey importado em um livro com dedicatória, e o pior, depois do estresse ainda tirou foto, achou que aquela era a cena ideal que ela precisava, desejo e descontrução.
A instituição sádica do nosso casamento às vezes me cansava, mas sua irreverência e infantilidade de fato era o que me segurava. Tive algumas oportunidades de seguir outros rumos na minha vida, conheci pessoas influentes, conheci lugares, mas era aquele caminho pra qual eu me conduzi, de forma natural às coisas foram acontecendo, não foi determinado, eu poderia a qualquer momento mudar o rumo, oportunidades desnudaram se na minha frente, mas escolhi esse.


E não pensava em qualquer tipo de remorso por isso, poderia estar casado com outros mulheres, belas ou médias, ricas, diplomadas, amigas que seduziram em encontros extremamente românticos, como um a mais ou menos cinco anos atrás em plena França, em outra ocasião conto essa.
Eu sempre fui um ser mais centrado na racionalidade do que na emoção, tanto que esse shows extrapolantes que a ela dá, são coisa que observo como se estivesse vendo um espetáculo, não me afeta a ação, é artístico, e real, eu não ignoro, mas sobre mim não tem poder algum.
Semana passada, cheguei em casa depois de visitar um amigo de longa data, quase amanhecia, procurei ela pela casa inteira, esse tipo de coisa era normal acontecer, eu sempre sai com meus amigos e ela com os dela, e isso não nos dava problema, é bom explicitar isso para que o leitor não ache que foi esse motivo. Motivo de que?


Então, entrei no quarto, pra tomar um banho, ela não estava dormindo, procurei ela pela casa, fui no quartinho de produção dela, que ela não gostava que se referíssemos como ateliê, e nada, achei estranho, voltei pra tomar banho, voltei a procura pós banho, sala, cozinha; terraço, subi, Jade a nossa gatinha persa miava, um corpo desmaiado esvaído em sangue...vivo ou morto? Corri, toquei nela...

Um comentário:

Mayara Bandeira disse...

... e percebi que era mais uma de suas obras. um corpo desmaiado esvaído em sangue.

confesso que suas últimas produções têm me assustado, um pouco.